Conceição da Barra, Ecoporanga e Vila Pavão têm as maiores reservas de sal-gema da América

Conceição da Barra, Ecoporanga e Vila Pavão têm as maiores reservas de sal-gema da América


Reservas que ficam nas profundezas da terra estão intocadas. Produto é usado na produção de soda cáustica, bicarbonato de sódio e até tubos de PVC

As cidades de Conceição da Barra, Ecoporanga e Vila Pavão, juntas, abrigam as maiores reservas de sal-gema da América Latina. São quase 20 bilhões de toneladas, sendo que o maior número concentra-se em Conceição da Barra.

Em 1976, durante a perfuração nos arredores de Conceição da Barra em busca de petróleo, a Petrobras descobriu a presença de sais solúveis na região. Como resultado, a extinta Petromisa, uma subsidiária da estatal especializada em mineração, assumiu o trabalho de pesquisa nas áreas locais, que abrangem 110 mil hectares.

Ao longo dos anos, a mineradora extinta acabou descobrindo a maior reserva de sal-gema do Brasil, representando cerca de 54% das estimativas totais do país, com um volume impressionante de quase 20 bilhões de toneladas. No entanto, desde então, essa riqueza permaneceu intocada.

No ano de 2021, um leilão realizado pela Agência Nacional de Mineração (ANM) resultou na aquisição de 11 áreas de sal-gema no Espírito Santo por quatro empresas, com um valor aproximado de R$ 170 milhões. No entanto, posteriormente, o Ministério Público Federal (MPF) solicitou a exclusão de três dessas áreas do leilão, alegando interferência em territórios quilombolas. Atualmente, as atividades no estado se limitam à pesquisa, sem intervenção física nas reservas de sal-gema no território capixaba.

✅ Indústria
Inicialmente, a exploração em Maceió se voltou para a produção de dicloroetano, substância empregada na fabricação de PVC. Não por acaso, desde que inaugurou em 2012 uma unidade industrial na cidade de Marechal Deodoro, vizinha a Maceió, a Braskem se tornou a maior produtora de PVC do continente americano. Outras indústrias, como a de celulose e de vidro, também empregam o sal-gema em seus processos.

A exploração de sal-gema, como outros minerais, depende de licenciamento ambiental. A exploração é fiscalizada pela Agência Nacional de Mineração (ANM). No mercado internacional, o Brasil é um ator relevante. Segundo dados da ANM, foram 7 milhões de toneladas em 2002. O ranking do ano passado, no entanto, mostra que os três líderes mundiais têm produção muito mais robusta que todos os demais: China (64 milhões de toneladas), Índia (45 milhões) e Estados Unidos (42 milhões).

Em Maceió, a exploração das minas teve início em 1976 pela empresa Salgema Indústrias Químicas, que logo foi estatizada e mais tarde novamente privatizada. Em 1996, mudou de nome para Trikem e, em 2002, funde-se com outras empresas menores tornando-se finalmente Braskem, com controle majoritário do Grupo Novonor, antigo Grupo Odebrecht. A Petrobras também possui participação acionária na empresa, com 47% das ações, dividindo o controle acionário com a Novonor. Atualmente, a Braskem desenvolve atividades não apenas no Brasil, como também em outros países como Estados Unidos, México e Alemanha.

✅ Escavação
A exploração em Maceió envolvia a escavação de poços até a camada de sal, que pode estar há mais de mil metros de profundidade. Então, injetava-se água para dissolver o sal-gema e formar uma salmoura. Em seguida, usando um sistema de pressão, a solução era trazida até a superfície. Ao fim da extração, esses poços precisam ser preenchidos com uma solução líquida para manter a estabilidade do solo.

O problema em Maceió ocorreu por vazamento dessa solução líquida, deixando buracos na camada de sal. Uma hipótese já levantada por pesquisadores é de que a ocorrência tenha relação com falhas geológicas na região. Consequentemente, a instabilidade no solo levou a um tremor de terra sentido em março de 2018. O evento causou os afundamentos nos cinco bairros: Pinheiro, Mustange, Bebedouro, Bom Parto e Farol.

Com novos tremores e o surgimento de rachaduras em casas e ruas, a Braskem anunciou o fim da exploração das minas em maio de 2019. A petroquímica diz que já foi pago R$ 3,7 bilhões em indenizações e auxílios financeiros para moradores e comerciantes desses bairros. Uma parcela dos atingidos busca reparação através de processos judiciais. O caso também é discutido em ações movidas pelo Ministério Público Federal (MPF).